sexta-feira, 29 de abril de 2011

Uma história

riscos e rabiscos

Foto retirada do álbum de Débora Figueiredo em http://www.flickr.com/photos/debora/2327066405/

Vou partilhar uma história que li um dia destes e que achei imensa piada. Esta história foi retirada na íntegra do artigo “Expectativas e resistências face às TIC na escola”(pág. 205-206) de Jacinta Paiva, da Universidade de Coimbra que consta do livro “As TIC na educação em Portugal” com organização de Fernando Albuquerque Costa, Helena Peralta e Sofia Viseu, da colecção “Mundo de Saberes” da Porto Editora, . E a autora conta esta história a propósito da pergunta “Será que encaramos a escola de hoje com o mesmo olhar de sempre?”

“Era uma vez um aluno desatento. Na sua carteira havia piões, fisgas e outros quejandos, por entre os mais ortodoxos materiais. Mas, naquela sala grande cheia de carteiras, havia também outros alunos, eles sim bem-comportados, sentados com as costas direitas, respondendo em uníssono a todas as questões do professor.

Aquele aluno desatento era um rapaz especial, fazia perguntas, interrompia o prfessor e, sobretudo, viajava muito, tão longe quanto a sua imaginação o permitia. Mas era desatento, talvez pouco dotado… Ele era o desencanto daquele professor, que, apesar de o seu olhar hipnótico, não conseguia fazer dele um aluno como os outros.

Ele era tão especial, tão especial, que quando o professor mandava desenhar peixes, tartarugas ou cães, ele pintava-os com barbatanas cor-de-rosa, carapaças às listas e focinhos azuis.

As suas notas a Desenho eram mesmo muito más. Mas porque é que ele não desenhava como os outros; perguntava aquele professor. Os cães são castanhos, quando muito malhados, os peixes de aquário são vermelhos e as tartarugas verdes acastanhadas. Assim eram os animais que o professor conhecia e que todos os outros meninos desenhavam.

Aquele menino sentia-se triste e estava cada vez mais desatento. Esqueci-me de um pormenor: este menino também não jogava futebol.

Todos os meninos jogavam futebol nos intervalos mas ele não…Imaginem, ele desenhava animais estranhos, robôs e toda a sorte de coisas e seres nunca antes vistos.

Para ser bom aluno, ele tinha de jogar futebol, fazer casas, árvores, serras e rios e, sobretudo, deixar de ser tão desatento…

Mas, um dia, aquele professor partiu e veio outro. Aparentemente, o novo professor não era mais novo ou diferente. Também ensinava tabuada, fazia ditados, cópias, redacções, desenhos e leituras, mas gostava de piões e fisgas e explicava a matéria com eles. Gostava de animais coloridos, gostava de perguntas e às vezes não tinha respostas, mas passou a ter um grande problema… tinha um aluno muito atento e todos os outros muito desatentos…

Entretanto, os outros meninos, antes bem-comportados e agora desatentos, até gostavam do professor. Ele não gritava, não ralhava, mas não o entendiam… Era tão difícil pintar animais às cores e fazer perguntas sem parar. Mas eis senão quando, conseguiram entendê-lo… E de tudo se fazia aula… Não era preciso estar sempre de acordo, podia errar-se. Claro que era preciso saber a tabuada, saber ler e escrever, mas os piqueniques podiam ser em Marte e os homens podiam ter ferramentas nos pés… e todos os meninos podiam ser quem eram, diferentes, desatentos, sonhadores, tímidos…

Aqueles meninos andaram na escola até serem velhinhos e aquele professor era um mago com 500 anos e que, antes de ser mago, também tinha andado naquela escola até ser muito velhinho…”

E termina assim a história no qual a autora pergunta no final “Aprender será olhar para dentro de mim, para fora de mim, para dentro dos outros, para as coisas e situações e integrar tudo isto no meu ser?”

Até já,

7 comentários:

  1. "...mas eis senão quando conseguiram entendê-lo."
    - 5oo anos teria?...pura imaginação -
    muitos mais anos necessitaria
    para atingir tal EMOÇÃO!

    Rita C. :)

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  2. Só me apraz dizer: "adorei a história e... encantou-me o comentário".
    Obrigado pelo sorriso!

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  3. Queria, no entanto, dizer que gostei imenso do texto! Acreditei na ideia que ele transmite durante anos a fio, para não cair no desalento total...

    Abraço Filipe

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  4. Que história fabulosa!
    Se não te importas vou utiliza-la com os meus meninos, quem sabe não semeio algo nos mais desatentos...
    Fizeste-me refletir que de facto a realidade apresenta-se de formas diferentes para cada um. E se conseguirmos ver, descobrir e valorizar essas diferenças teremos do nosso lado os atentos e captamos a atenção dos desatentos. Nem todos vemos o mundo da mesma cor... Afinal quem não gostaria que os sonhos se tornassem realidade? Porque não ensinar utilizando histórias fantásticas?
    Adorei!!! Obrigada pela partilha...

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  5. Obrigada pela partilha!
    Como diria alguém sábio "O sonho comanda a vida...". Eu, apesar de ter alguns anos continuo a acreditar que quando deixar de sonhar, então já não existo; por isso, deixemos 'voar' as nossas crianças, muitas vezes 'voando' aprendemos e construimos algo de novo...
    Parabéns! Gosto das suas dicas Prof. Filipe, de vez em quando, serei mais assidua no blog.
    Um abraço
    Ed. Cristina

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  6. E se o sonho comanda a vida, porque não continuar a "voar", a "sonhar"... Sim, porque quando o deixarmos de o fazer já nada mais interessa e aí somente respiraremos entre quatro paredes, mas sem rostos para nos fazerem sorrir!
    Eu quero acreditar!
    Um abraço.
    Getorra

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